De olho nas mudanças climáticas, TRAG cria seguro para o agronegócio baseado em dados satélites e IA

Matéria da Época Negócios

Até agora, as apólices emitidas pela insurtech de Franca (SP) protegeram R$ 55 milhões em valor segurado e 200 mil hectares foram analisados em oito estados do país

Embora o agronegócio represente cerca de 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, menos de 14% da área cultivada no país está coberta por seguro rural — segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).

O número é preocupante principalmente por conta dos eventos climáticos mais frequentes e intensos, que colocam em risco a segurança e continuidade dos negócios. Neste contexto, o seguro paramétrico (modalidade que paga indenizações com base em parâmetros pré-definidos, sem a necessidade de uma vistoria in loco) surge como uma alternativa inovadora ao seguro agrícola tradicional, oferecendo vantagens como maior previsibilidade e agilidade no pagamento da indenização, custos operacionais reduzidos e acessibilidade para mais tipos de cultura.

Com a integração da inteligência artificial, esse tipo de seguro ganha ainda mais precisão na análise do risco, além da capacidade de personalização em toda a jornada para o segurado. É o que promete a tecnologia oferecida pela TRAG, insurtech do agro criada no ano passado em Franca, interior de São Paulo.

A ideia de fundar a startup veio dos primos Leonardo Maia e Luis Ricci Maia e de Rodrigo Gandra (engenheiro agrônomo), que já eram sócios na Ceres do Brasil, corretora especializada em riscos agrícolas. Para comandar o novo negócio, também se juntou ao time Adriano Bacha (ex-engineering manager do Nubank) como CTO.

Ao contrário do seguro agrícola tradicional no Brasil, que é baseado no dano real da lavoura após análise in loco de um perito, processo que muitas vezes é burocrático e lento no pagamento de indenizações, o seguro paramétrico da TRAG não exige a comprovação física de danos materiais. Em vez disso, o pagamento é acionado automaticamente com base em parâmetros pré-definidos, como seca ou excesso de chuva, utilizando IA e dados agroclimáticos.

Inovação para mensuração das perdas

Para a mensuração das perdas, a TRAG utiliza inteligência artificial com dados captados por satélites que têm cobertura global (desenvolvidos em programas da NASA). “Acessamos esses dados satelitais a nível do talhão de uma fazenda e conseguimos fazer análises de até 40 anos de histórico de dado climático daquele local”, afirma o cofundador Luis Ricci Maia. Ao cruzar essas informações em tempo real, a IA permite uma avaliação mais assertiva dos riscos.

Segundo Maia, os dados são cruzados com modelos agronômicos específicos criados pela startup – para a soja, milho etc. “Cada cultura responde de uma forma diferente em relação ao tipo de solo daquela região e ao que acontece com mudanças climáticas extremas”, diz. A ideia é oferecer soluções personalizadas e mais precisas.

Até agora, as apólices emitidas protegeram R$ 55 milhões em valor segurado e 200 mil hectares foram analisados em oito estados (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Maranhão), e nas culturas de soja, milho, café, amendoim e feijão.

Não é a TRAG que assume o risco do processo. A insurtech faz parceria com seguradoras globais e tira uma participação do prêmio captado.

Depois de captar sua primeira rodada de investimento em 2024, no valor de R$ 2 milhões, para construir a plataforma e acessar os primeiros mercados, a startup está estruturando uma nova captação. O aporte, que contará com investidores de peso e especialistas do setor, deve ser anunciado no primeiro trimestre de 2026.

Os próximos passos da TRAG incluem potencializar a sua solução e expandir o número de canais de distribuição – a empresa está construindo parcerias com financiadores no Nordeste e fez algumas cotações para a possibilidade de ampliar o seu produto para outros países da América Latina como Argentina e Paraguai.

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