Matéria do Valor Econômico, Por CNseg
Realizado em Brasília, evento pré-COP da Casa do Seguro apresenta a estratégia do setor frente a um cenário marcado por riscos inéditos para o campo, as cidades e a infraestrutura
Quando tiver início, em novembro, em Belém (PA), a 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, vai contar com o setor de seguros como um dos protagonistas dos debates sobre estratégias capazes de prevenir e mitigar os danos das mudanças climáticas e garantir proteção financeira para as sociedades globais.
Ao longo de toda a preparação para esse encontro, o presidente da COP no Brasil, o economista e embaixador André Correa do Lago, tem reiterado, em falas públicas e documentos oficiais compartilhados com as demais nações, o quanto as seguradoras são cruciais para proteger a sociedade diante da ampla transição que se apresenta.
“Tradicionalmente baseado em estatísticas e métricas, o setor de seguros vem se reinventando em decorrência dos desafios provocados pelas mudanças climáticas. É crucial para estimar onde e quando vão acontecer eventos extremos. Pode contribuir nas duas vertentes que se mostram urgentes: a redução de danos e a adaptação a incidentes, que vão, inevitavelmente, acontecer”, disse Lago, durante o encontro pré-COP organizado no início de outubro, em Brasília, pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).
O encontro detalhou para os convidados a estratégia de posicionamento da entidade frente a um cenário marcado por uma série de novos riscos, para o campo, as cidades e a infraestrutura, com profundo impacto econômico e social. O evento também reforçou o papel que a Casa do Seguro terá na COP30, um espaço de debates e reflexões que a entidade está construindo na capital paraense, que permanecerá aberta entre os dias 10 e 21 de novembro.
“O setor pode oferecer uma série de soluções para o enfrentamento das mudanças climáticas. Desde o papel básico de aceitar e assumir riscos para a sociedade, com produtos e soluções inovadoras, como também o papel de mitigação, prevenção e redução de riscos”, declarou Dyogo Oliveira, presidente da CNseg e ex-ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.
Agronegócios e infraestrutura resiliente
Alguns eixos centrais para a agenda da Casa do Seguro fizeram parte da pauta do evento realizado em Brasília, que contou com quatro painéis, dedicados aos temas: seguros para soluções baseadas na natureza e agronegócio sustentável; infraestrutura resiliente e proteção de investimentos; seguros como instrumento de proteção social; e, por fim, finanças sustentáveis.
Como apoiar o agronegócio sustentável, promovendo soluções baseadas na natureza, melhorando a gestão de riscos e incentivando investimentos na conservação ambiental? “Atuamos para que todas as políticas públicas voltadas para o campo mirem ações de adaptação à mudança do clima até 2035. As soluções baseadas na natureza surgem com muita força nesse contexto, e o risco é um tema central. O setor de seguros pode apoiar a performance dos projetos de regeneração florestal”, explicou Aloisio Lopes, secretário Nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Fátima Lima, presidente da Comissão de Integração ASG da CNseg, lembrou que o seguro faz a ponte entre o risco climático, a resiliência, as soluções baseadas na natureza e as garantias para bancos, investidores e produtores. Por sua vez, Ricardo Sassi, diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB), lembrou: “O clima não está no controle do produtor. Ele pode investir na qualidade da semente, na manutenção do solo, mas um incidente imprevisto coloca em risco sua produção e, no limite, sua continuidade no campo. A proteção financeira é crucial nesse contexto”.
A infraestrutura logística e as cidades encaram dilemas semelhantes, como foi detalhado no segundo painel. Como apontou Roberto Guimarães, diretor de Planejamento e Economia da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB), o país experimenta um círculo virtuoso: “Vemos uma avalanche de projetos, com base nos investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), nos recursos externos e no suporte do mercado de capitais. O que falta é ampliar o papel dos seguros, que são muito mais baratos e efica e eficazes do que a fiança bancária”.
Por sua densidade, as cidades tendem a sofrer diretamente o impacto das mudanças climáticas, comentou, por sua vez, Roberto Muniz, diretor de Relações Institucionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Quando falamos em resiliência, costumamos pensar em infraestrutura. Mas é importante também olhar para as pessoas, com políticas públicas e ações do setor privado.”
Proteção social e finanças sustentáveis
No painel sobre infraestrutura, o head de Soluções Imobiliárias e Regeneração Urbana do BNDES, Flavio Papelbaum, apontou que o banco vem participando ativamente do desenho dos projetos, de garantir a maior eficácia na utilização dos recursos, em diferentes frentes. “Temos 16 milhões de pessoas morando em favelas, áreas que correm grandes riscos. Atuamos na direção de entender as vulnerabilidades, com assessoria completa, que segue todo o ciclo dos projetos.”
Como ficou claro na mesa seguinte, o microsseguro é estratégico nesse cenário. Foi o que explicou Júlia Lins, diretora técnica da Superintendência de Seguros Privados (Susep).“Temos como objetivo ampliar o acesso ao seguro, para que ele de fato chegue à população de baixa renda, para quem vai ter uma utilidade social muito maior.Como reguladores, atuamos para impulsionar esse produto e entender se as seguradoras estão entregando produtos alinhados com as expectativas desses consumidores, de forma a preencher lacunas, de forma responsável e socialmente útil”, disse.
Por fim, o encontro detalhou o quanto o setor financeiro pode atuar de forma decisiva para apoiar todas essas ações sociais e ambientais, de infraestrutura rural e urbana.“O Brasil é exemplo de iniciativas para atrair capital. O desafio é fazer a aproximação para as empresas bancárias e o mercado de capitais, com o mercado segurador e a área de análise de risco”, apontou Claudia Prates, diretora de Sustentabilidade da CNseg.
“O risco climático é também financeiro. Falamos de gerenciamento de risco socioambiental desde 2008, porque conceder crédito para projetos com métricas ASG bem definidas é fundamental”, afirmou Amaury Oliva, diretor-executivo de Sustentabilidade, Cidadania Financeira, Relações com o Consumidor e Autorregulação da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).