Past Post: A Insurtech do Além

*Por Hugues Bertin

Essa é mais uma postagem da coluna mensal Insurtech Vip Lounge, exclusiva do Insurtech.com.br. Todo mês Hugues Bertin traz uma nova insurtech da América Latina para nossos leitores conhecerem

Descobrir a Past Post pode causar um certo desconforto, já que falar sobre a morte sempre é um tema delicado. No entanto, no mundo dos seguros, lidamos com riscos o tempo todo. E se esse setor da “Death Tech” pudesse ter um impacto social significativo, ajudando-nos a transcender para além de nós mesmos? Hoje, para explorar essa proposta fascinante, converso com Miguel Farrell, CEO da Past Post.

Tudo começou com uma pergunta profundamente humana: Como me despeço de quem amo quando eu já não estiver mais aqui? Essa inquietação surgiu em Juan Carlos Arouesty, um dos sócios, que queria garantir que sua voz e sua vontade chegassem à esposa e aos filhos mesmo em sua ausência. Essa necessidade desencadeou algo maior e, em 2022, nasceu a Past Post: uma plataforma que transforma a morte em um ato de amor, continuidade e responsabilidade. Não é apenas um aplicativo; é uma ferramenta para transcender, para que palavras, decisões e legados cheguem exatamente quando forem mais necessários.

Eles descobriram que o verdadeiro problema não era a falta de planejamento, mas sim o silêncio em torno da morte. A maioria das pessoas quer se preparar, mas não sabe por onde começar. O maior medo não é partir, e sim deixar um caos emocional, legal ou financeiro. Foi aí que entenderam algo essencial: não se trata de falar sobre a morte, e sim sobre amor, paz e continuidade de transformar o tabu em uma conversa possível.

Miguel me conta que encontrar tração não foi fácil. O desafio não era técnico, era cultural: enfrentaram o maior tabu de todos. Mas, quando mudaram a narrativa, tudo começou a fluir. Hoje, a Past Post já ultrapassa 16 mil downloads orgânicos, com uma curva B2B em crescimento, custo de aquisição de clientes (CAC) em queda e uma comunidade cada vez mais engajada.

Foi por isso que lançaram o podcast “Antes de Morrer”, e deu certo. Apostaram no edutainment educar com entretenimento, informar com empatia, sem solenidade. Ao mudar o tom do sombrio para o humano algo mágico aconteceu: as pessoas começaram a se abrir, a falar, a perguntar, a se conectar. O desejo de deixar tudo em ordem sempre existiu. Faltava apenas uma voz dizendo: “Você não está sozinho. É aqui que começa.”

Como SaaS, a Past Post oferece assinaturas que incluem mensagens póstumas em áudio, lista de bens, preferências funerárias, instruções para dependentes e pets, encerramento de redes sociais e seguros de vida com cobertura de despesas funerárias, operados pela MAPFRE. Tudo sem exames médicos e diretamente na plataforma, criando uma experiência completa, onde o seguro é apenas uma parte de um encerramento bem planejado.

O desafio era garantir que uma mensagem chegasse intacta, mesmo décadas depois. Por isso, utilizam blockchain e NFTs para blindar o legado. A Past Post conecta Web2 e Web3 com assinatura digital, prova de vida, conformidade com a NOM-151 e uma IA empática que acompanha o usuário caso ele se emocione ao gravar sua mensagem.

“Transformamos um trâmite em uma experiência emocional, um seguro em um ato de amor.”

A Past Post desenvolveu seguros de vida e despesas funerárias com a MAPFRE. Tudo começou com uma pequena seguradora em Monterrey, até que a MAPFRE os descobriu e propôs uma parceria. Enquanto a MAPFRE trouxe cobertura e solidez, a Past Post agregou o que a indústria havia esquecido: emoção, empatia e conexão humana. Porque o seguro é racional, mas seu uso é profundamente emocional e é aí que a Past Post faz a diferença.

Muitos pensam que isso é apenas para idosos, mas as novas gerações estão mais abertas do que nunca a planejar seu futuro digitalmente. A economia prateada é só o começo; o que vem por aí na Insurtech e Deathtech para jovens entre 30 e 45 anos é promissor. Por isso, criaram uma plataforma acolhedora, intuitiva e acessível, sem fricções nem formalidades.

Até agora, nunca precisaram intervir após o falecimento de um cliente e dizem isso com alegria: todos continuam vivos. No entanto, já vivenciaram momentos emocionantes, como pessoas gravando seu primeiro “eu te amo” com a voz trêmula ou famílias que, ao receberem uma mensagem de teste, decidiram deixar a sua própria. Um caso os marcou: uma usuária de 70 anos gravou sua mensagem póstuma, mas a enviou por engano. A família achou que ela havia falecido até que ela mesma ligou dizendo: “Estou mais viva do que nunca… mas já me ouviram!”. Desde então, implementaram confirmação dupla para o envio de mensagens finais.

Para o futuro da Past Post, a visão é seguir desenvolvendo produtos no México, sua base e laboratório emocional. No entanto, o problema que abordam é global o que permite escalar a solução para além das fronteiras. Atualmente, já estão se expandindo para Chile, Colômbia, Itália, Brasil e Estados Unidos, onde há mais de 80 bilhões de dólares em ativos não reclamados.

A plataforma está pronta e disponível em espanhol, inglês, italiano e português, adaptando-se a qualquer seguradora. Porque, no fim das contas, todos nós partiremos… e o que realmente queremos deixar não é apenas uma lembrança, é paz.

SOBRE O AUTOR:

Hugues Bertin é CEO da Digital Insurance LatAm, uma empresa de consultoria especializada em estratégias de inovação e insurtech, e também é sócio do fundo de investimentos HCS Capital. Como palestrante internacional, ele foi escolhido como o principal influenciador em insurtech e inovação em seguros pelo The Latam Insurtech e Lightico em suas classificações globais. Seu objetivo é impulsionar o setor de seguros para frente no mundo que está por vir.

Ele é co-fundador e diretor sem fins lucrativos da Insurtechile e da AIC (Associação Insurtech da Colômbia). Ele também é Diretor Executivo do CDI+Latam, a certificação de referência em seguros digitais para a América Latina. Além disso, ele co-organiza o Fórum Insurtech Latam, o maior evento da América Latina, e atua no Conselho Consultivo do InsurtechConnect, o maior evento de insurtech do mundo.

Hugues é atuário pelo Instituto de Estatística de Paris (França) e possui um Executive MBA pelo IAE (Argentina). Ele ocupou vários cargos executivos na BNPP Cardif, Mercer e PwC por mais de 20 anos na indústria de seguros, abrangendo dois continentes: Europa e América Latina. Ele liderou ou aconselhou jogadores da indústria de seguros em projetos de transformação digital e inovação.

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