Tendências: O que deu errado em 2022 e o que será de 2023?

Por Alex Körner

Quantas tendências você leu para este ano? Sem contar o horóscopo, todo inicio de ano é a mesma coisa. Vemos dezenas de previsões, tendencias e buscamos algo que nos conforte para o planejamento que fizemos em outubro do ano anterior.

Em 26 de janeiro de 2022, também fiz minhas previsões para o mercado de seguros: as 5 tendências para 2022. E como já iniciamos o ano, comecei a rabiscar as primeiras impressões do que poderia acontecer. Nesse momento, parei e refleti. Nunca vi ninguém voltar para o que escreveu no ano anterior e fazer uma crítica do que acertou ou errou. Nem consultorias de estratégia, estudos, nada. Por que não podemos iniciar de forma diferente?

Com isso, vamos avaliar as cinco tendências do ano passado, acertamos ou erramos? E sermos críticos para avaliar o que aconteceu de diferente. Após passarmos por este escrutínio público, vamos olhar para o que pode acontecer em 2023. Bora?

As tendências de 2022, um ano complexo.

Só para contextualizar de forma rápida para quem não se lembra começamos o ano com a Ômicron bombando em janeiro e dois meses depois o início da Guerra da Ucrânia que ninguém previa. E nesse mesmo mês de janeiro, essas foram as cinco tendências abordadas:

1. Investidores continuará buscando insurtechs para investir.

Placar: Acertou.

Avaliação: Sim, houveram vários aportes em novas rodadas de investimento em insurtechs. Nas internacionais, tivemos a WeFox (USD 400MM – julho/22), Pie Insurance (USD 400MM – set/22) e outra dezena de investidas. No Brasil também tivemos a 180° Seguros (USD 32,8MM – jan/22), Azos (R$ 30MM – mai/22), entre outras. Ou seja, mesmo com cenário econômico começando a apresentar dificuldades, os investimentos continuaram e foram reduzindo ao longo do ano comparando com 2021.

2. Novas insurtechs no mercado

Placar: Acertou mais ou menos.

Avaliação: O mapa de insurtechs não cresceu de forma proporcional ao que cresceu nos anos anteriores. Isso é fato. Sim, tivemos novas insurtechs como a Latir, mas menos insurtechs em relação aos anos anteriores recentes. E mesmo com a edição 2, do Sandbox, não vimos todas as iniciativas em operação. Aliás, cade todas essas empresas?

3. Seguro de vida, cresce ou cai?

Placar: Acertou

Avaliação: O seguro de vida cresceu muito na pandemia. A preocupação era com a queda de internações e mortes por covid, diminuiria a procura pelo seguro de vida. E isso não aconteceu, o crescimento continuou, indicando que o volume de prêmio de pessoas, no acumulado de janeiro até novembro de 2022, pela SUSEP, cresceu13,8%.

4. O que vem por aí com o Open Insurance?

Placar: Acertou

Avaliação: Sim, existiram várias discussões da SISS e até a reformulação dela com um novo instrumento para o mercado. Nesse sentido, minha opinião pessoal é que ainda vai demorar muito tempo para vermos qualquer impacto no mercado. O consumidor ainda não entendeu claramente os benefícios do Open Finance, imagine do Open Insurance.

5. Crescimento do embedded insurance

Placar: Acertou.

Avaliação: Não existem números oficiais sobre esse crescimento, mas se avaliamos pela procura da palavra “embedded insurance” no Google, você ficará impressionado com os números. Em 2021, houveram 5.790 resultados para a palavra ‘embedded insurance’. Se avaliarmos o ano de 2022, esse número pulou para 12.000 resultados! Um crescimento de 51,75%! Isso diz que é um novo modelo de negócio rentável? Ainda não sabemos.

Placar final: 4 acertos e meio. Nada mal.

Fechamos o ano. Agora é olhar para frente para os próximos 11 meses. E 2023, como ficamos? Antes de falarmos das tendências de 2023, vamos levar em consideração o cenário econômico e político do momento, tanto do Brasil como do mundo. Por isso, esse exercício acho que vai ser mais complexo que o ano passado:

As tendências de 2023, um ano para lembrarmos.

1. Muitas insurtechs vão quebrar.

Estamos vivendo um momento de lay-offs enorme no mundo das empresas techs. São milhares de demissões acontecendo nesse momento. As startups estão prolongando ao máximo seu cash burn. Conseguiram sobreviver 2022, mas ainda não é certo que passam por esse ano sem mais turbulências. No mercado de seguros, tivemos uma explosão de novas empresas com todos modelos de negócio, b2b, b2c e b2b2c. Algumas estão atingindo um nível de maturidade que ficará mais difícil de justificar aos investidores. Vários modelos de negócios não vão parar de pé ou serão comprados. Aguardemos.

2. Queda da penetração do seguro de automóvel. 

Com a inflação nos patamares atuais, custos dos prêmios de seguro de automóvel crescendo ano contra ano, vamos ver uma queda de penetração no mercado. Se as seguradoras não tiverem um olhar estratégico (experiência, serviços e transacionalidade) para esse produto com seus canais de distribuição e clientes, vai perder participação. É necessário abrir uma agenda de inovação e criatividade para atuar na dor do cliente para 2023. E para completar, existem várias insurtechs tentando participar dos mesmos 30% de penetração do seguro de automóvel. 

3. Resultado das seguradoras vai ser favorecido pelo resultado financeiro

Com as taxas que temos atualmente, com certeza as seguradoras estão respirando pouco mais aliviadas. O volume de prêmios para vários produtos continuará seguindo crescendo, mas os impactos de sinistros também pode crescer de forma proporcional. O brasileiro vai buscar ser ressarcido se tiver algum tipo de prejuízo e lembrando de produtos que havia contratado. As seguradoras por outro lado, podem melhorar suas margens com resultado financeiro, mas deveriam colocar parte desse resultado como investimento em 2023 em projetos estratégicos de construção de negócio para alavancar em novas frentes de distribuição e digital para 2024.

4. Competição de igual para igual: incumbentes e insurtechs.

Que ambos modelos de negócios podem ajudar um ao outro, isso é inegável. Mas cada dia que passa, em que a tecnologia é mais um meio do que um fim ou seja mais commodity, veremos as seguradoras tradicionais se posicionando de forma mais tech. Já se passaram quatro anos desde a segunda onda de insurtechs e as imcumbentes ouviram o que todos estavam dizendo. Existem sinergias, mas também competição.

5. Canais de distribuição precisam de receitas.

Foi evidente em 2022, mas será mais evidente em 2023: diversificação de receitas. Novos canais de distribuição, sejam empresas tradicionais ou startups em qualquer rodada de investimento já notaram que podem diversificar receitas sem consumo de capital com seguros. E quem souber mostrar como fazer isso de forma ágil, simples e para todos os produtos, com certeza estará na frente. Um desafio para as seguradoras ou insurtechs monoproduto. É importante reavaliar o modelo estratégico de negócio. 

Sobre o autor:

Alex Körner
Mais de 17 anos de atuação no mercado de seguros, participou da construção de três startups sendo com passagem pela 180° Seguros como Co-Founder & Chief Insurance Officer, Head do AutoCompara do Grupo Santander e Head da MAPFRE Consórcios do Grupo MAPFRE Brasil. Além disso, passou por cargos de liderança e influência no mercado de seguros como Head de Estratégia, Marketing e Governança da Zurich Santander e presidente da Comissão de Inteligência de Mercado da Confederação das Seguradoras (CNseg). Graduado em Publicidade e Propaganda, com MBA em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), possui diversos cursos de especialização como Conselheiro pelo Instituto Brasileiro Governanca Corporativa (IBGC), Programa Executivo na Dom Cabral e Programa Internacional pela MAPFRE, com IESE Business School e Harvard. Atua também como startup advisor, palestrante e escritor de artigos de seguros até newsletter semanal no Linkedin.

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