A era dos seguros digitais: como a tecnologia e os modelos de negócio estão redesenhando o mercado de proteção e assistências

Por Darllan Botega

Contratar um seguro ou assistência deixou de ser sinônimo de burocracia, papelada e contratos complexos. O avanço da digitalização e, sobretudo, a evolução dos modelos de negócio estão promovendo uma disrupção estrutural no setor, consolidando uma nova lógica: mais simples, acessível, personalizada e integrada ao cotidiano das pessoas.
 

O crescimento do setor comprova essa transformação. Segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), o mercado arrecadou R$ 435,56 bilhões em 2024, um avanço nominal de 12,2% em relação ao ano anterior. Esse crescimento não é apenas quantitativo — ele é qualitativo. A digitalização, somada à mudança no comportamento dos consumidores, redefine os pilares de distribuição, desenvolvimento de produtos e gestão de risco.
 

Mais do que digitalizar processos, o setor está passando por uma reengenharia de sua própria cadeia de valor. As novas tecnologias são habilitadores de modelos de negócios completamente novos, através da inteligência artificial e seus agentes, APIs para conectar tudo e a oportunidade de construir novos modelos com dados não estruturados são e serão a diferença para as empresas mais inovadoras e adaptadas.
 

Estamos falando de produtos altamente personalizados, jornadas 100% digitais e experiências instantâneas. Um exemplo claro desse movimento são as proteções para smartphones vendidas diretamente dentro de apps de e-commerce ou bancos digitais, onde o cliente, ao adquirir um novo aparelho, recebe uma oferta contextualizada de seguro. Com poucos cliques, a contratação é concluída, a apólice é emitida em tempo real e o cliente já está protegido. O mesmo se aplica a assistências automotivas ou viagens que podem ser contratadas no momento da compra do bilhete aéreo, tudo de forma automatizada, personalizada e integrada à jornada do consumidor. A utilização de dados e análises preditivas permite uma gestão de risco mais precisa, uma precificação mais justa e, consequentemente, preços menores, democratizando o acesso a seguros e assistências para públicos que, historicamente, estavam fora desse mercado.
 

O novo papel das seguradoras e das insurtechs no ecossistema digital
 

O consumidor mobile-first (migrando para o IA-first!), que vive integrado a plataformas digitais, exige soluções que façam parte de sua jornada cotidiana. A transição para um comportamento IA-first significa que os clientes esperam, cada vez mais, interações preditivas, personalizadas e automatizadas. Isso se traduz em assistentes virtuais que antecipam necessidades, ofertas de seguros baseadas em comportamento em tempo real, análise de riscos com base em dados não estruturados — como localização, hábitos de consumo e até interações em redes sociais —, além de jornadas de sinistro 100% automatizadas, onde a IA faz o reconhecimento de imagens, valida documentos e aprova indenizações em minutos, sem intervenção humana. — simples, intuitivas e invisíveis. Contratar a proteção para um celular, viagem, bicicleta ou até para sua vida financeira deve ser tão fácil quanto fazer uma compra em e-commerce. E isso muda completamente a lógica de distribuição.
 

Neste cenário, o modelo de parcerias e B2B2C ganha protagonismo. Empresas de setores como varejo, turismo, bancos digitais, mobilidade e saúde passam a incorporar seguros e assistências como parte de sua proposta de valor. O seguro deixa de ser um produto isolado e se torna um serviço embutido, relevante, acessível e disponível no momento certo da jornada do cliente.
 

É aqui que surgem oportunidades para Insurtechs, novamente, se reinventarem e se reposicionarem, focando não só em um setor ou ramo de seguros mas trazendo implantação das novas tecnologias para o setor. Tomo a liberdade de inverter a nomenclatura das startups techs de seguros e trazer o termo “TechInsur”, que não são apenas corretoras e distribuidoras digitais, mas sim empresas de tecnologia focadas em soluções para o ecossistema de proteção, benefícios e assistências. APIs, plataformas white label, jornadas plugáveis, inteligência preditiva, automação de sinistros e precificação dinâmica fazem parte desse novo arsenal.
 

De corretora digital para orquestradora: o papel da Ciclic como Corporate Venture Studio
 

Mais do que uma insurtech ou uma distribuidora digital, a Ciclic está se posicionando como um hub de tecnologia, negócios, inovação e crescimento para o mercado de proteção e assistências no Brasil, assumindo o papel de uma techinsur.
 

Nesse contexto, nossa ambição é se transformar em um Corporate Venture Studio — um modelo de negócios no qual uma empresa não apenas investe em startups, como ocorre em um Corporate Venture Capital (CVC), mas atua na criação, desenvolvimento e operação de novos negócios de forma recorrente e estruturada. Um Corporate Venture Studio combina os ativos e capacidades de uma corporação — como acesso a mercado, base de clientes, infraestrutura, dados e capital — com a agilidade, inovação e mentalidade de risco típicas das startups e dos fundos de venture capital. Ele funciona como uma fábrica de startups, onde ideias são validadas, negócios são construídos do zero, testados, escalados e, eventualmente, podem ser incorporados à corporação, seguir como spin-offs ou receber investimentos externos. A Ciclic se posiciona como esse “adaptador estratégico” que conecta o melhor dos mundos:

  • A robustez dos investimentos corporativos (CVC);
  • A agilidade e inovação das startups;
  • A escalabilidade das grandes corporações;
  • E a tese de crescimento e risco dos fundos de Venture Capital.

Estamos buscando atuar na criação, aceleração e conexão de negócios que transformam o mercado, com foco e dedicação à BB Seguros, estrutura da qual fazemos parte. Desenvolvemos soluções proprietárias, cocriamos com startups, e somos a ponte entre o ecossistema de inovação e os grandes players do setor.

Isso significa:

  • Mapear novos negócios inovadores, em linha com as tendências globais e necessidades locais.
  • Acelerar e apoiar startups (insurtechs, healthtechs, fintechs, etc), oferecendo acesso não só a capital, mas também a mercado, infraestrutura e know-how.
  • Conectar fundos de venture capital e CVC, destravando oportunidades para que startups escalem com sustentabilidade e governança.
  • Ser o conector entre os mundos B2B, B2B2C e B2C, orquestrando jornadas, produtos e serviços que atendem desde o cliente final até parceiros estratégicos.

O mercado não se transforma apenas com tecnologia — ele se reinventa com modelos de negócios
 

O movimento de open innovation, impulsionado por venture studios, hubs de inovação, sandboxes regulatórios e parcerias estratégicas, não é mais uma escolha — é uma condição para permanecer relevante.

Empresas que entendem que a transformação não é apenas digital, mas também estrutural e cultural, estão construindo vantagem competitiva sustentável. E é exatamente aqui que a Ciclic tem investido: na intersecção entre tecnologia, modelos de negócio inovadores e experiências centradas no cliente.
 

Desafios e oportunidades: o que vem pela frente
 

Se por um lado a oportunidade é gigantesca, os desafios são proporcionais. Um dos principais é o desafio regulatório, que ainda não acompanha plenamente a velocidade da inovação. Por exemplo, modelos de seguros baseados em uso (pay-per-use) ou seguros paramétricos ainda enfrentam barreiras regulatórias no Brasil, exigindo adaptações constantes. Além disso, há o desafio da transformação cultural dentro das empresas tradicionais do setor, que precisam abandonar estruturas hierárquicas rígidas, adotar metodologias ágeis e desenvolver uma mentalidade digital-first. Casos como a dificuldade de integração de APIs em seguradoras legadas ou resistência interna a modelos de negócios B2B2C ilustram como a mudança cultural é, muitas vezes, mais desafiadora do que a tecnológica. A regulação precisa acompanhar a velocidade da inovação, a transformação cultural dentro das empresas ainda é lenta, e a escuta ativa do cliente — para criar produtos e experiências verdadeiramente relevantes — segue sendo o principal diferencial competitivo.

Além disso, o setor precisa equilibrar tecnologia com empatia. O digital não elimina o fator humano — ele potencializa. O atendimento que acolhe, que resolve, que gera segurança, continua sendo insubstituível.
 

Conexão que transforma
 

A transformação do mercado de seguros e assistências não é uma simples digitalização de processos — é a reinvenção de toda a cadeia de valor. Seremos cada vez menos uma indústria de seguros e cada vez mais uma indústria de soluções para proteção, cuidado, bem-estar e qualidade de vida.
 

Na Ciclic, estamos comprometidos em liderar essa transformação, atuarmos como uma “techinsur” e como um Corporate Venture Studio, conectando startups, investidores, grandes empresas e tecnologias para construir o futuro do mercado de proteção no Brasil. Nosso papel é ser o adaptador desse ecossistema — criando valor para todos os agentes da cadeia, e, principalmente, para o cliente final.
 

Convidamos startups, investidores e empresas que compartilham dessa visão a se conectarem conosco. Juntos, podemos acelerar a transformação do setor, cocriar soluções que impactam positivamente a vida das pessoas e gerar valor sustentável para todo o ecossistema de seguros, assistências e bem-estar no Brasil. — é a reinvenção de toda a cadeia de valor. 

Darllan Botega

CEO da Ciclic, empresa da BB Seguros

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