Por Rogério Melfi*
A engrenagem que pode transformar a recorrência, reduzir inadimplência e impulsionar a eficiência do setor
A essência do setor de seguros está no compromisso contínuo. A cada mês, milhões de contratos são renovados, prêmios são pagos, coberturas são mantidas. Essa recorrência é o alicerce de uma lógica que depende, ao mesmo tempo, de previsibilidade financeira e de confiança na relação entre seguradora e segurado. Mas, ainda hoje, essa engrenagem essencial costuma operar com atrito: boletos que vencem sem aviso, débitos automáticos limitados por convênios bancários, esquecimentos que viram inadimplência.
É nesse cenário que o Pix Automático surge como uma peça-chave na modernização das formas de pagamento do setor. Criado pelo Banco Central do Brasil, ele permite que cobranças recorrentes sejam quitadas de forma automática, mediante uma única autorização prévia do cliente. Essa autorização é flexível: o consumidor define parâmetros como valor máximo, prazo de validade e, se desejar, pode revisar ou cancelar a qualquer momento. Antes de cada pagamento, o banco do pagador notifica o cliente sobre a cobrança agendada enviada pela empresa recebedora e, na data prevista, executa a transferência via Pix, conforme as regras definidas na autorização.
Essa fluidez representa um ganho expressivo para o segurado, que passa a contar com uma alternativa simples, segura e totalmente digital para manter suas obrigações em dia.
Mas é para as seguradoras que o Pix Automático se revela ainda mais estratégico. Ao eliminar a dependência de estruturas tradicionais, como boletos ou o débito automático vinculado a convênios específicos, o modelo amplia a abrangência da cobrança, alcançando públicos que não utilizam cartão de crédito ou que operam fora do sistema bancário tradicional.
Ao mesmo tempo, o novo arranjo reduz de forma significativa a inadimplência. Com pagamentos automáticos realizados na data correta, o risco de esquecimento ou atraso diminui drasticamente. A operação também se torna mais enxuta: não há necessidade de reenvios constantes, de lembretes por múltiplos canais, nem de renegociações frequentes com clientes inadimplentes. A cobrança passa a ser parte natural do fluxo digital do cliente, com menor custo operacional e maior previsibilidade para quem recebe.
Outro ponto de destaque está na adesão. O processo é simples: a empresa interessada precisa apenas contratar um participante do Pix que ofereça o serviço de Pix Automático. A cobrança pode ser operacionalizada diretamente por meio da infraestrutura do próprio Pix ou via Open Finance, utilizando um iniciador de transações de pagamento (ITP). Em ambos os caminhos, a segurança é garantida pelos mesmos protocolos que consolidaram o sucesso do Pix no Brasil — incluindo o Mecanismo Especial de Devolução, acionável em caso de falhas ou transações indevidas.
Mais do que uma modernização nos meios de cobrança, o Pix Automático permite que o setor de seguros avance em direção a novos modelos de relacionamento. Com ele, abre-se espaço para seguros ajustados ao uso, prêmios sob demanda e outras experiências personalizadas que dependem de agilidade e automação. Em um mercado cada vez mais orientado por dados, conectividade e comportamento digital, o Pix Automático é mais um elo entre inovação tecnológica e sustentabilidade operacional.
Se a proteção é um compromisso contínuo, faz sentido que o pagamento também seja. O Pix Automático aproxima o setor de seguros de uma infraestrutura de pagamentos moderna — mais instantânea, conectada e inteligente.
(*) Rogério Melfi palestrou sobre Pix Automático no último Insurtech Brasil e acompanha de perto a evolução da agenda de inovação do Banco Central. Atua há mais de 20 anos no setor financeiro e hoje lidera o desenvolvimento de produtos com foco em Open Finance e inteligência de dados no PilotIn.