Matéria de Marcos Bonfim para Bloomberg Línea
Com modelo que usa telemetria e analisa comportamento dos motoristas para precificar as apólices, startup projeta dobrar de tamanho anualmente e chegar a 1 milhão de apólices em cinco anos, conta o CEO Dhaval Chadha à Bloomberg Línea
A Justos, insurtech brasileira com foco em seguro de automóveis, acaba de fechar um novo aporte de R$ 92 milhões. A rodada, classificada como uma bridge, foi liderada pela Ribbit Capital, com participação de Kaszek, Endeavor Catalyst e Scale-Up Ventures.
Os recursos devem sustentar a expansão da companhia, que desde março passou a operar como seguradora S3, com autorização plena da Susep (Superintendência de Seguros Privados).
A startup opera com um modelo em que utiliza telemetria via smartphone para avaliar como cada motorista dirige — de velocidade, freadas e aceleração ao uso do celular -, dados que impactam diretamente no preço das apólices.
A Justos, em contrapartida ao acesso dos dados, promete mensalidades até 30% mais baixos que as seguradoras tradicionais.
Fundada no final de 2020 pelo indiano Dhaval Chadha (CEO), o mexicano Jorge Soto e espanhol Antonio Molins, a Justos soma agora mais de US$ 55 milhões captados desde sua criação, que considera as rodadas anteriores lideradas por Kaszek e Ribbit, respectivamente.
A nova injeção de capital vem após um ciclo de crescimento anual com redução contínua de sinistralidade – um dos principais indicadores de eficiência no setor.
“Crescer rápido com sinistralidade ruim é fácil. Crescer com uma sinistralidade saudável é o verdadeiro desafio. Por isso, os fundos estão apostando e continuam a investir”, disse Chadha em entrevista à Bloomberg Línea.
Segundo o empreendedor, a Justos tem reduzido a sinistralidade em cerca de seis pontos percentuais ao ano, com uma taxa acumulada de 67% até agora em 2025.
A diminuição, de acordo com o CEO, resulta de uma combinação de fatores: melhorias nos modelos de precificação, aperfeiçoamento na subscrição de riscos, uso de telemetria para avaliar o comportamento dos motoristas, além de avanços em detecção de fraude e na eficiência operacional de liquidação de sinistros.
“Hoje, cerca de 2% dos nossos segurados não têm a apólice renovada por não atingirem uma nota mínima de direção. Por outro lado, os 98% que permanecem têm acesso a descontos e pontos que podem ser trocados em parceiros como Uber, McDonald’s e redes de combustíveis”, afirmou.
A partir da esq., Jorge Soto Moreno, Dhaval Chadh e Antonio Molins, fundadores da Justos: plano de alcançar mais de 1 milhão de apólices em cinco anos
Do lado da experiência do usuário, a Justos aposta na tecnologia para reduzir atritos históricos do setor.
Um dos exemplos é o acompanhamento em tempo real de solicitações de guincho, modelo inspirado em aplicativos como o do iFood. O mesmo vale para o status de conserto de veículos, área em que a insurtech já disponibiliza acompanhamento via aplicativo há mais de um ano.
“Seguradora é um produto de confiança. As pessoas passam anos pagando e esperam que, no ‘pior dia da vida delas’, a companhia esteja lá para ajudar”, disse Chadha.
Atualmente, a maior concentração de clientes da Justos está em São Paulo (estado), seguido por Rio de Janeiro e Espírito Santo. A empresa também tem feito mais esforços nas regiões como Sul, Centro-Oeste e Nordeste.
Além de fortalecer as reservas técnicas exigidas pela Susep, o novo aporte será direcionado principalmente para tecnologia. A empresa planeja ampliar o uso de inteligência artificial com foco em ferramentas para os corretores de seguros, responsável por toda a distribuição da Justos hoje.
“Muitos corretores gastam tempo demais com tarefas operacionais manuais. Não existem muitas ferramentas para eles, e a nossa ideia é automatizar esses processos para que possam vender mais ou ter mais tempo livre”, afirmou.
“Até agora, nós investimos muito mais em criar uma melhor experiência para o cliente. Agora, a atenção está no corretor.”
Com o plano de continuar a dobrar de tamanho anualmente nos próximos cinco anos, a Justos projeta alcançar mais de 1 milhão de apólices até o final desse ciclo.
A startup não abre o número total de emissões e diz apenas que estão na casa de “dezenas de milhares”.
Uma eventual expansão internacional – com o México, terra natal de Soto, como primeiro destino – está no radar, mas só deve ocorrer a partir de 2027.
Os caminhos de Chadha, Soto e Molins se cruzaram no Vale do Silício, nos Estados Unidos, onde os três empreendedores, de diferentes países e formações, decidiram que queriam construir algo juntos com impacto real na América Latina.
Antes de escolher o mercado de seguros, o trio explorou mais de cem ideias de negócios, segundo contaram. Foi a combinação entre tecnologia, dados e propósito social que os levou ao setor.
A bagagem técnica do grupo também pesou na decisão: Antonio, por exemplo, foi responsável por criar o primeiro algoritmo de recomendação da Netflix.
Já com experiência de nove anos vivendo no Brasil, Dhaval enxergou no país um terreno fértil para aplicar a proposta de seguro de automóvel com base no comportamento dos motoristas.
Fonte: Escrita por de Marcos Bonfim para Bloomberg Línea
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