Análise da Bloomberg mostra que as empresas com maior risco climático enfrentam um prêmio adicional sobre seu custo médio de capital, explica o pesquisador Niall Smith
Nos setores financeiro e de seguros, o risco não é um elemento a ser evitado, mas um componente a ser precificado.
Para bancos, corretores e investidores, cobrar um prêmio aos clientes expostos a riscos é fundamental para seu modelo de negócios.
As mudanças climáticas representam um risco que está se tornando cada vez mais generalizado.
Por muitos anos, o setor de seguros se ajustou a eventos climáticos extremos. Nos Estados Unidos, por exemplo, os estados ao redor do Golfo do México, que são propensos a furacões, normalmente têm prêmios de seguro mais altos. À medida que os efeitos das mudanças climáticas se intensificam, esses prêmios estão aumentando.
Essa tendência não se limita às apólices de seguro. Uma nova análise da Bloomberg indica que as empresas que enfrentam grandes ameaças climáticas já estão pagando um prêmio mensurável sobre seu custo de capital.
A pesquisa mostra que as empresas com taxas de danos patrimoniais 10 pontos percentuais mais altas devido a riscos climáticos enfrentam 22 pontos-base adicionais em seu custo médio de capital.
Esse prêmio permanece mesmo depois de levar em consideração o setor, a região e o tamanho da empresa.
Isso sugere que os mercados estão penalizando sistematicamente as empresas expostas ao risco climático. “Em outras palavras: se você está mais exposto a tempestades, inundações ou ondas de calor, o financiamento fica mais caro — e as avaliações são afetadas”, explica Niall Smith, pesquisador da Bloomberg que liderou o estudo.
Quantificando o custo das ameaças climáticas
As conclusões da Bloomberg são uma das primeiras tentativas abrangentes de medir se o risco climático físico, em oposição ao risco de transição, acarreta um custo de financiamento detectável nos mercados acionários globais. A análise examinou empresas de capital aberto em todo o mundo.
Ela relacionou sua exposição climática física aos custos de financiamento por meio de uma análise de regressão utilizando indicadores de risco físico que avaliam os danos potenciais aos ativos causados por 10 riscos climáticos, incluindo ciclones, inundações e estresse térmico.
Inicialmente, o sinal de risco climático não era óbvio nos dados brutos. A relação só ficou clara por meio da análise de regressão que controlou os fatores estruturais, com o efeito de 22 pontos-base se mostrando robusto.
Disparidades industriais e regionais na precificação de riscos
A penalidade financeira pelo risco climático mostra uma variação considerável por setor. As indústrias intensivas em ativos parecem arcar com os custos mais altos, com as empresas de materiais enfrentando um prêmio de 56 pontos-base e as concessionárias pagando 45 pontos-base a mais.
A análise observa que isso é “teoricamente consistente”, já que os mercados estão atentos ao fato de que os setores intensivos em ativos estão mais expostos aos impactos físicos das mudanças climáticas.
Outros setores apresentaram coeficientes abaixo da média global.
As disparidades também são pronunciadas geograficamente. A análise da Bloomberg mostra que as empresas latino-americanas enfrentam um prêmio de 94 pontos-base para exposição climática equivalente, mais de 4 vezes a média global. As empresas asiáticas enfrentam 25 pontos-base em custos adicionais.
Em contrapartida, o efeito nos mercados desenvolvidos parece ser mais fraco. A análise controlou a composição setorial, sugerindo que essas diferenças regionais podem refletir a precificação do risco geográfico, e não a composição industrial.
O papel da divulgação na gestão dos custos de financiamento
Essas conclusões têm implicações importantes para os investidores e a estratégia corporativa. Para as empresas, a pesquisa sugere que a implementação de estratégias de adaptação climática pode trazer benefícios financeiros além da resiliência operacional.
A Bloomberg recomenda que os investidores devem “integrar totalmente os fatores de risco físico nas avaliações, modelos de fluxo de caixa descontado, alocações de ativos e processos de investimento mais amplos para manter retornos ajustados ao risco”.
A análise conclui que as empresas poderiam potencialmente reduzir seus custos de financiamento. Ao demonstrar resiliência ao risco físico por meio da divulgação de avaliações de risco climático e planos de adaptação claros, elas podem reduzir seus custos de financiamento no futuro.
